terça-feira, 27 de março de 2012

Cotas para negros em universidades públicas: sim ou não?

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Você já ouviu falar em ações afirmativas? Não?


Pois bem, ações afirmativas são políticas públicas que visam à diminuição das desigualdades sociais. É o que acontece, por exemplo, quando é definida uma porcentagem de vagas para deficientes físicos nos concursos públicos, quando a mulher grávida tem direito a tirar sua licença maternidade ou quando o idoso tem atendimento preferencial em bancos ou supermercados. É o tal Princípio da Isonomia, assegurado pela própria Constituição Federal, que busca “tratar com igualdade os iguais e com desigualdade os desiguais, na medida de suas desigualdades”.


O sistema de cotas para afro-descendentes nas universidades públicas brasileiras nada mais é que uma ação afirmativa criada pelo Estado, o qual defende que tal política ajudará a reduzir o abismo existente na qualidade dos ensinos proporcionados ao negro e ao branco. Mas será que a medida realmente promove o fim de tal desproporcionalidade?
Para responder essa questão, imagine que em uma luta de boxe um dos adversários é peso pena, ao passo que o outro pertence à categoria peso pesado. Imagine também que para o peso pesado é fornecida uma boa alimentação, um treinamento técnico de ponta e as melhores luvas, enquanto ao peso pena não é fornecido nada disso. Não é surpresa quem vai sair vencendo, não acha? Pois é mais ou menos assim que funciona a universidade pública: enquanto alguns candidatos têm condições de pagar por um ensino digno de qualidade, outros não têm sequer acesso a salas de aula decentes. Injusto, não?
Pois agora faça diferente. Imagine que fossem fornecidos anabolizantes ao lutador peso pena. Ele ganharia uma vantagem imediata, certo? Então agora, sim, estamos falando do sistema de cotas, que no final das contas não dizima o desnivelamento, mas apenas o mascara. Vê-se, portanto, que essa política serve apenas como um paliativo, nada mais que uma maneira de procrastinar uma solução real para o problema. Ora, mas por que estou falando isso?
Primeiro porque fico questionando o que ocorre com os não-negros que são pobres e também não têm acesso a um ensino de qualidade, como o menino branco que mora na favela, por exemplo.  Vão ficar excluídos desse benefício só porque seu organismo não possui melanina o suficiente?
Quer dizer, então, que um negro que pertença à elite brasileira pode tomar proveito das cotas somente por ter a pele escura, não importando se ele teve todo um aparato educacional para entrar em uma boa universidade, né? Realmente… Super justo!
Mas antes fosse só isso! Ainda existem outros fatores que servem como crítica ao sistema de cotas para afro-descendentes. Um deles é o fato de que essas ações poderiam denegrir a imagem profissional e intelectual do trabalhador negro, que acabaria se tornando alvo de preconceitos em virtude do tal favorecimento. Acha exagerado? Pois foi exatamente o que aconteceu nos EUA. Quando lá foi implantada essa política, muitos “patrões” negavam empregos a negros recém-formados devido ao questionamento de suas reais aptidões. Pensava-se que só porque se formavam através do sistema de cotas eram intelectualmente incapazes, tornando-se café com leite (sem trocadilhos, por favor) para o mercado de trabalho. Triste, mas bem verídico.
Um outro empecilho – este até mais polêmico – seria como determinar quem realmente pode ser considerado negro no Brasil, já que vivemos em um país intensamente miscigenado e a cor da pele não determina, necessariamente, a origem do indivíduo. Muitos se consideram inseridos em uma categoria indefinida, a qual possui variações desde o mais branco até o negro mais intenso. E daí você já sabe… É aquela velha auto-classificação que varia de pessoa pra pessoa: “sou moreno claro”, “sou mestiço”, “sou pardo”, “sou cafuzo”, etc.
O problema é que muitos poderiam se auto-declarar negros só para tirarem proveito dessa bagatela.“Ah, eu sou moreno claro, mas minha namorada me chama de ‘meu chocolate’. Vou me declarar negro, pois assim fica mais fácil entrar na universidade. Rá!”. Entendeu?
Então digo que o sistema de cotas não serve para esse propósito de suavizar a desproporcionalidade entre a educação do branco e do negro e blá blá blá… É tapar o sol com a peneira, ou como diz um amigo meu, é o mesmo que cagar e limpar o c* com canjica. Não resolve. Cor da pele nunca mediu capacidade de ninguém.
Mas, então, o que pode funcionar?
Bem, note que a questão aqui é majoritariamente social e não racial, já que não é apenas o negro que não tem oportunidade de estudar em uma escola de qualidade ou que não tem acesso aos melhores subsídios para alicerçar sua educação, mas sim o pobre de maneira geral! Não interessa se ele é negro, branco, mulato, pardo, chinês ou índio.
Logo, se o Brasil fosse um país que portasse uma nivelação social, econômica e cultural, e dispusesse de educação qualificada para todos, o sistema de cotas para afro-descendentes seria absolutamente desnecessário, uma vez que todos os cidadãos, independentemente de etnia ou classe social, seriam igualmente idôneos para disputar uma vaga na universidade.
O eficaz, portanto, é combater o problema em sua gênese. Ou seja, corrigir e elevar a qualidade do ensino público, visto que somente dessa forma poderá ser alcançada uma verdadeira homogeneidade entre os candidatos no acesso ao ensino superior. Simples assim.
Ah, e outra coisa: ficar separando as pessoas pela cor não te lembra o Apartheid? Super segregativo! Eu mesma não saberia me classificar com tanta precisão…  Não existem cotas para pessoas de cor rosa-bebê, né? Uma pena. Fico bege com isso.


Fonte: http://gabriellapantoja.wordpress.com

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