domingo, 11 de dezembro de 2011

Onde fica o Negro na fila da saúde Pública?


Nos últimos vinte anos, é memorável a importância conquistada pelas Organizações do Movimento Social Negro, como protagonistas de mudanças de paradigmas, trazendo à sociedade e governantes os distintos olhares sociais que contribuem ao cumprimento dos direitos humanos e promoção de novos direitos na atenção a saúde da população negra. Destacam-se no período ações técnicopolíticas lideradas principalmente por mulheres negras que, enquanto observadoras e participantes das comunidades negras das periferias dos grandes centros urbanos, presenciam que essa nasce, vive e morre de forma diferente, quando comparada à população socialmente percebida como branca. Com esse olhar, inserem o tema saúde da população negra na pauta de reivindicações do movimento negro nacional.Destaca-se no período, como marco inaugural de iniciativas das políticas públicas voltadas para a inclusão da temática saúde da população negra no Sistema Único de Saúde, a mesa-redonda realizada em Brasília (DF), nos dias 16 e 17 de abril de 1996, por iniciativa do Grupo Interministerial para a Valorização da População Negra.

Desse encontro, participaram diferentes setores representativos da sociedade, como: pesquisadores, técnicos integrantes dos vários ministérios, movimentos sociais negros e de pessoas, convivendo com a doença falciforme. O resultado observado foi o reconhecimento de que os dados apresentados apontavam evidências e especificidades que deveriam ser contempladas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar das várias iniciativas dos últimos cinco anos, por parte de alguns gestores em consolidar a saúde da população negra enquanto política pública no SUS, as várias legislações e portarias que norteiam a temática, principalmente em relação à anemia falciforme, essas ações ainda, não impactam no cotidiano do bem estar das populações negras.
No entanto, no cotidiano das representações sociais associadas à saúde da população negra é no quesito saúde que vamos encontrá-la tão bem posicionada que atinge a utopia do conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde. Ou seja, saúde é o estado de perfeito bem estar físico, mental, social e espiritual e não apenas a ausência de doença.
É voz corrente nas famílias negras, assim como na população geral, frases do tipo: Negro é forte, negro não adoece, negro tem saúde de ferro, negro vive mais, negro é resistente a dor, negro não chora, negro não vai ao medico, negro é alegre, negro é festeiro, negro é bom de samba, negro está sempre rindo....
Cabe a nós mulheres e homens negros, desconstruírmos esses resquícios do escravismo no qual não podíamos adoecer e, continuarmos na luta em defesa do SUS para que nós negros, agora 51% da população brasileira,sejamos contemplados em nossas especificidades para que o Brasil seja de fato e de direito, um país de todas e todos, independentemente da sua origem ou etnia.

Fonte: Berenice Kikuchi – mestre em educação, enfermeira de saúde publica, pesquisadora, escritora e diretora técnica da associação de anemia falciforme do estado de São Paulo.


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